sábado, 22 de junho de 2013

Incerteza

Entre as folhas do prédio da cidade
Caem minhas incertezas das mãos de Deus,
Entre os ares pardo da negra rua, olhos meus
Giram, despedaçados, em órbita da divindade

Pontas soltas da incerteza, e tantas,
Atordoam-me ao léu do vento
A cada semáforo que cruzo, invento
Termo do incerto em horas santas

Não santas são as horas escuras,
Acordado do sonho em plena rua
Onde já vejo gentes e a cidade nua
Sem certezas para as minhas curas

E deparo com as folhas dos prédios da cidade
No chão envolto aos meus passos
Em sombras que se cruzam em laços,
E o semáforo verde, como campo da liberdade

quinta-feira, 13 de junho de 2013

O raiar do dia que vi amanhã

O raiar do dia que vi amanhã
Quando a bruma ainda cerrava,
Frio é o calor do tédio que brotava
De mim fazendo modesta a manhã

Vi o amanhã em pleno Sol ardente,
Quando já a noite caíra,
Levantei em busca da bela lira
Que escrevera em solidão anuente

O que sentira ditava o tempo apenas,
A solidão anuía à sua vontade,
Da minha lira era o mecenas

Da lira que me prosperava
Vendo o raiar do dia amanhã
Quando lia a bela que amava

domingo, 9 de junho de 2013

As cinzas no céu

       As cinzas no céu
no largo do acento divino
vejo como que as almas cinzam
       Em preparo do dia do réu

      vejo agonia entre os ares
do branco do meu papel e o escuro
das almas sujas em lamas feitas
      na terra e nos mares

      e cai em lágrimas o desdizer,
pelas nuvens agoniadas neste dia,
logrando as flores que vejo daqui
      e a primavera condizer

     com o cinzado dia, não condiz
mas as flores brotavam primavera,
certo o orvalho amanha haverá
     tanto nas rosas, jasmim ou lis

quarta-feira, 5 de junho de 2013

A nuvem solta


A ver no céu a nuvem solta,
Ela mira-me no meu maior pequenez
Perdido envolto das calçadas da cidade
Entre os homens humanos e o Sol que chovia.

Não desfaz, nuvem que vejo
Estou só, neste antro ermo de saudades longas
Afaga o ar onde passo, que pesa a dor
De choro dos bravos, como eu, que navegam
Em mares torpes e amaldiçoados pelas vidas. E
Não desfaz, nuvem que vejo
Estou só, entre mórbidos olhos, por agora,
Fica e chove sob esse Sol que abrilhanta
A orla cretina da cidade lusitana

terça-feira, 4 de junho de 2013

Hipocrisia

Soneto hipócrita

Triste é o campo rico e minado,
De borboletas que voam sem posar nas flores
Medo das cores do campo de prado
Das flores que podem não ser amores

... das flores vermelhas que não são rosas
E nem são belas como as brancas
Mas são lindas entre as prosas
E sorriem branco como as brancas

Não são brancas nem vermelhas
São sombras de paredes ocultas
Nas luzes cismas de dores sepultas

Como todas as outras, são almas iludidas
No agouro dos males, que outros não vêem,
E que elas neles crêem 

O poeta que dorme em mim

O poeta que dorme em mim

Diz o poeta que dorme em mim:
    Que não sou triste,
Que sou um poço de amor sem fim,
Seco, neste mundo agreste

Diz que escrevo em linhas retas
As tortas coisas, podre, vil
Que escrevo ódio, pelas canetas
Em ponta suave, fina e dócil

Que acuso o Homem, eternos imperfeitos
Em palavras que nascem perfeitas
Que crescem em estrofes aprazíveis, afeitos
De sentimentos em rimas feitas

Diz o poeta que dorme em mim,
Que faça sonetos desse avesso,
Dos desígnios versos do Caim,
Do carma que segue em mal confesso

Que fale do amor, não por fim
Mas em quantas horas vagas…
Diz o poeta que dorme em mim:
    Não esmoreças pelas pragas

segunda-feira, 3 de junho de 2013

Fado

Fado 

O ver retardar da esperança,
E a desgraça dar sorriso...
O fado crê desilusão… creio eu
Crê que caia triste e só… creio eu
Crê que morra jazido em lágrimas

Crê esse fado que perpetue
- Mal sabe que nos Homens não creio
Desfado o fado que crê poderoso
Que crê tristes estes meus olhos

Creio eu que assim crê,
- Nem sente tamanha esperança
Vigiando o desânimo do meu peito.
Credo esse fado… esse fado,
Que creio crer o deserto plantado em mim

Creio crer a minha ruína
- A minha queda em ideias outrem
Crê mesmo minhas lágrimas caídas
Sem saber que nos Homens não creio,

… Creio eu

Vento

Vento

Ale oh vento ventania, sopra!
Mal te posso segurar em pé
Em meia queda, segura-me a fé,
Sopra oh vento ventania, sopra

Ale oh vento ventania, sopra!
Espanta os meus males no teu bater
Leva-me no livre do teu ser…
No forte ar que sopra e sopra

Leva a minha tristeza, oh ventania
Traz o amor em sopro fino
Em som ténue e emotivo hino
Sopra e traz, oh ventania

Leva também ao meu amor,
Leva e leva, oh ventania,
A minha saudade, o meu clamor

O vazio que me segue

O vazio que me segue

O vazio que me segue, sem tréguas
Viaja do meu sono a meus sonhos
E acordo dormindo num motim silencioso
Da mistura da guerra abstrata, interno
E a paz do meu inferno

O vazio que me segue no céu, aqui dentro
Num espaço entre o despertar num sorriso
E o dormir sob as asas da agonia tardia
Tanto soa absurdo e confuso
Como a mais lúcida da minha verdade oculta
Nessa vaga em mim sepulta

Nesse vazio de respostas, em…
Mares de perguntas vivas por mim,
Na ligação vazia de diversas cores,
Do nascer do sol ao mergulho no mar…
Passando estações e eras
E prevalecendo o silêncio às minhas falas

Há tanto que ver

Há tanto que ver

Ainda há tanto que ver,
E não vi nada… sofro, choro
Iludo, deslumbro e há mais que ter
Do que vetar prematuro enterro

Há tanto que ver… meu Deus!
Perdoe por lhe clamar,
Mas clamo por outros seus,
Por não ver que há tanto para amar

Ainda há tanto que ver
E não vi nada…
Só o passar do tempo a ler
Lento sobre o nada

Ainda há tanto que ver,
E eu amarrando em toda dúvida
A dor sepulta de uma vida

Clareiam os meus olhos ao te ver

Clareiam os meus olhos ao te ver

Clareiam os meus olhos ao te ver,
De ver tão pleno… amor, tão pleno
De ver viver, o ser e o ter
Em teu haver… teu olhar aceno

Teu mel é o meu sossego dos prantos
Clareia tudo, dos meus olhos ao mal feroz.
De mim só nasce ferozes encantos
E os males que evolam no meio de nós

Clareiam os meus olhos ao te ver
Ardem as minhas cinzas frias em tempos
Brotam ao te ver… e só ao te ver

E brotam intenso… amor, intenso
Queima a estiagem em mim afeito,
E vejo tão pleno… amor imenso

Por aqui vai-se indo

Por aqui vai-se indo 

Por agora vai-se indo…
Na proa turbulenta, vai-se indo

A passar, a passar
Demora a tempestade sobre o mar
E… vai se indo, em chama fria
Nesse vento da noite sombria

Indo… e vai-se vendo
Feridas do tempo, sendo
O afinco do meu desnorte,
E em morte fria nesta terra sem norte.

Aqui… e ali… vai se vivendo
E em lágrimas de tostões me prendo.
Não caí em desgraça…
Nem menos me levanto na farsa graça

Nem mesmo choro se não for
- Mas vai… vai se indo como for
Na proa turbulenta…
Em vento travesso fria e lenta. 

Tenho que me apropriar a este mundo

Tenho que me apropriar a este mundo


Tenho que me apropriar a este mundo
            Que não pertenço
Nem vós, nem o resto de tudo.
Não por inteiro, nem metade de nada
Do meu inteiro, a maior parte é a alma
Que nomadiza entre o paraíso e o inferno
Até o dia que resolve ficar... Até lá,
A minha alma me cede o cato,
A subtração, pra me apropriar ao mundo negrume
Antes que ela me apague

domingo, 2 de junho de 2013

Chegada da Primavera

Chegada da Primavera

Chegou na feia hora a primavera,
Torpe o tempo da nova era
Nada mudou… sem ser as cores
Com as vistas lindas de belas flores

Nada mudou, primavera bonita
Nada me fez vida bendita
Sem ser o aroma e a bela vista
Que a tua essência me pôs à vista

Nada de nada me fizeste em nada
O tempo em pouco a tua chegada
Esperar por tempo e resto o ver
Se o tempo me traz o doce vencer

Chegou na feia hora a primavera
No torpe vento da nova era
Nada mudou… sem ser as cores
E o orvalho frio cobrindo as flores

Aproximar da Primavera

Aproximar da Primavera

Primavera vem a porta
E chega bela em torta rota
Abre a porta e o inverno aborta
A torta noite fria e morta

Primavera bela, viva o amor
Dela o aroma vivo primor
Quero saber se já há flor,
Da cor mais viva pro meu amor

Primavera vera cura
Ternura a terra de cor pura
Aura espalha tenra doçura
E pura primavera toda dura

Primavera vem a porta
E chega bela em torta rota
Abre a porta e o inverno aborta
A torta noite fria e morta

O meu jeito de amar

O meu jeito de amar

O meu jeito de amar
É um vazio cheio de dor
Preenchida por ondas de belezas raras
Que me matam, a cada quebra intensa,
Num sufoco de soluços das lágrimas caídas

O meu jeito de amar
Uma flor seria, de império desmedido
Que deslocasse montanhas
No mover dos meus dedos
Que fazia chover Deuses de toda galáxia
Num hino perfeito, que tu serias refrão

O meu jeito de amar
Podia ser um sorriso destemido
Esplendoroso e divino aos olhos do mundo, este
Que mergulha num mar torpe de ilusões
Num abater de todo o mal, que tu serias heroína

O meu jeito de amar
Um paraíso seria, de aves afinadas
Que cantavam o hino dos Deuses
De um sol penetrante dentre as plantas coroadas
Pelas flores, que teriam teu cheiro.

Ilusão

Ilusão

Chegou a pronto, o salvador dos hem
         Neste dia que o Sol reluz
Em pleno inverno, e entre as nuvens vem
         A luz rebelde e sedenta, que seduz
A inocência radicada na pura alma.
         Tão belo, o brilho do mal
Que leva ao torto caminho do carma
         Por ilusão estúpida e fatal...

Implora o amor eterno, Alice perfeita,
         Uma eterna princesa
O amor já não vem a cavalo, nem é feita
         Com ramos de rosa de brilho acesa.
As fadas morreram, sozinha, és Alice
         Sem castelo, num tudo imperfeito
Num amor furado, hipotético, que és artífice
         Chora Alice, é o mundo de despeito
            
Chora Alice, mas lágrimas por amor é curto
         Ouvi que lá, na terra dos meus,
Escondida atrás das árvores do porto
         O vento leva esperança.
Perspectiva de nada, nem glória dos céus
          Veta a sentença
Dos que perdem, na curva ermida.
         Vês, Alice? Somos alma iludida